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15 Jan 2024 | 9 minutos • Carreira

Reflexão sobre mudanças

O quanto mudanças me moldaram profissionalmente

Ingrid Machado

Ingrid Machado

Engenheira de computação, especialista em engenharia de software. Autora deste querido blog.

Quando escrevi a série “Lidando com mudanças”, estava em um momento em que precisava aceitar a condição de que tudo muda ou me manter sofrendo a cada situação que me tirasse da zona de conforto. Apesar de ter sido um bom exercício, sabia que apenas estudar e escrever sobre não seria o suficiente para mudar. Eu precisaria também aplicar as técnicas no dia a dia e analisar o quanto estava conseguindo gerenciar as minhas emoções.

Pensando sobre isso, decidi escrever esse post, compartilhando um lado um pouco mais pessoal das mudanças que me afetaram. Principalmente porque acredito que falar sobre isso pode ajudar quem passou pelas mesmas dificuldades que eu passei.

Dito isso, seguem alguns pontos que refleti a respeito de como a minha resposta à mudança tem se modificado com o tempo.

Impacto emocional a cada mudança

Desde o início da minha carreira, precisei lidar com a minha inabilidade de lidar com qualquer mudança. Sejam mudanças grandes ou pequenas, que pareciam boas ou ruins ou que eu entendia o contexto ou não. Era algo tão automático, que quando eu parava para refletir sempre ficava em dúvida porque a minha reação inicial era tão combativa.

O primeiro exercício que lembro de ter aplicado para me ajudar nisso foi o de não demonstrar a minha opinião de imediato. Porque, dependendo do teor da mudança, certamente iria expressar o meu descontentamento automático de forma muito emocional. Então pensei que já que não conseguia controlar as minhas emoções, precisava buscar algo que pudesse controlar ativamente. E o escolhido foi a minha fala.

Vou deixar de lado o quanto falar menos pode ter trazido algumas desvantagens e focar nas vantagens. E também não quero dizer que essa é a solução para quem fica nervoso com mudanças. Foi apenas um meio que encontrei para conseguir lidar melhor comigo mesma.

Ao não expressar imediatamente a minha opinião, consigo parar para pensar a respeito do que está sendo anunciado e sobre como estou me sentindo. Como mencionei, às vezes estou me sentindo mal por saber que vem uma mudança, mas a mudança em si parece boa. E nem sempre é possível ter muito tempo para refletir antes de precisar opinar. Mas acredito que quanto mais faço esse exercício, mais fácil fica fazer esse processo de reflexão.

Entender o impacto emocional que as mudanças costumam causar em mim foi um divisor de águas na forma que eu lido com assuntos pessoais e profissionais. E o autoconhecimento foi muito importante nessa evolução. Também preciso deixar bem claro que não fiz isso sozinha. Eu passei por um processo terapêutico que me ajudou a entender muito as minhas limitações, inclusive me ajudando a destravar a minha fala novamente.

A cada nova mudança na mesma área o impacto diminui

Fazendo essas reflexões, percebi que quando acontecia uma mudança na mesma área que já havia passado por mudança antes eu não sentia tanto impacto. Para exemplificar, vou compartilhar uma história que até hoje eu não acredito que aconteceu, mas é um ótimo exemplo de como conseguimos evoluir a partir de mudanças.

Eu trabalhava em um time em que não fazia mais sentido continuar lá. Estava desmotivada, sem vontade de trabalhar com algumas pessoas do meu convívio diário e sentindo que fazia muita coisa que não resultava em nada. Com isso, decidi que gostaria de mudar de área dentro da mesma empresa e foi isso que aconteceu. No novo time, tive uma ótima recepção, comecei a trabalhar com pessoas maravilhosas, que me ensinaram tudo o que eu precisava saber para desempenhar o meu papel, e com uma liderança que até hoje considero como uma das melhores que já tive. Eu estava tão feliz no trabalho, que até acabei esquecendo o quanto estava desmotivada anteriormente.

Porém, pouco mais de um mês depois do meu início, o time foi reunido para receber o anúncio de que ele não existia mais dentro da estrutura. Todas as pessoas seriam realocadas em novos projetos e não havia espaço para discussão, porque a decisão já havia sido tomada. Até hoje eu consigo me lembrar exatamente como me senti ouvindo esse anúncio. Consigo me lembrar como iniciei o meu dia bem, ansiosa para saber quais tarefas seriam designadas para mim e feliz por estar onde queria estar. Eu lembro até da roupa que estava usando. E em uma reunião de menos de 30 minutos tudo isso desmoronou.

Acredito que não preciso descrever o quanto fiquei impactada e o quanto chorei depois daquela reunião. E o mais cruel, na minha opinião, é que eu não achava justo estar me sentindo tão mal. Eu tinha acabado de entrar no time e estava sofrendo como se eu fosse um dos integrantes que estavam lá há anos. Eu já tinha passado por várias situações ruins no trabalho, mas essa foi aquele tipo de experiência que faz a gente repensar todas as nossas crenças e opiniões sobre o que é ser um funcionário.

Depois disso, passei por outras situações igualmente ruins. Mas o impacto do encerramento desse time foi tão forte, que ele mudou a minha expectativa em relação às possibilidades de mudança dentro de uma empresa. Hoje em dia, trabalho sabendo que a qualquer momento o que eu faço pode acabar ou mudar. Assim, quando enfrentei outras mudanças dentro do ambiente de trabalho que poderiam ter me deixado péssima no passado, eu senti de forma diferente. Não é que eu não sofro mais, mas sim que eu uso essas experiências para mudar a minha percepção e me blindar para o que pode acontecer no futuro. E nem melhorou de uma hora para outra, mas sim de forma gradual a cada acontecimento.

Busca pelo lado positivo

Para não parecer que eu apenas aceito o que acontece comigo, acho importante esclarecer que, quando possível, procuro o lado positivo das mudanças. Recentemente, passei por uma mudança difícil, em que precisei me separar das pessoas que trabalhavam comigo há quase dois anos. O lado emocional sofre, porque não é fácil perder a convivência diária. Mas o lado racional pensa nas possibilidades de carreira que estão se abrindo e no conhecimento que vou adquirir com a nova experiência. Tento compartilhar esse pensamento com o time, mas sei que é complicado ter alguém dizendo para encontrar o lado bom quando não estamos tão contentes com a situação.

Pensar nos prós e contras é uma forma de conseguir lidar com algo que está nos afligindo. Sei que no passado eu poderia ser resistente a parar para pensar nisso, mas era justamente esse tipo de postura que me levava a sofrer mais do que o necessário. Fazer esse tipo de lista e conversar com alguém apenas para verbalizar a nossa opinião pode ser muito útil.

Em última instância, é possível que não se encontre nada de positivo. E então podemos decidir que não queremos fazer parte. Se uma mudança for imposta, sem opção de debate, temos a opção de ir embora. E esse é o lado positivo das mudanças dentro do contexto profissional. Geralmente, temos a opção de escolher o quanto vamos suportar.

Tenho consciência de que nem todas as pessoas possuem essa flexibilidade. No meu caso, eu mantenho as minhas contas em dia e uma reserva de emergência sempre a postos. Assim, tenho a segurança de que posso me movimentar sem maiores prejuízos. Mas nem sempre estive nessa situação na minha carreira e precisei acatar muitas coisas que, se tivesse condições, não acataria. Por isso, acredito que uma ótima dica é pensar na sua independência para conseguir ter uma situação melhor no futuro.

O que estou tentando dizer aqui é que nem tudo vai ter lado bom, mas vale tentar procurar. Caso não encontre, aí então entendo que é hora de agir.

Nem tudo o que é bom vai parecer bom de imediato

Preciso admitir que algumas mudanças que eu concluí que não tinham lado bom me convenceram depois. A maioria das vezes em que isso aconteceu, o motivo foi a falta de contexto claro. Quando sabemos porque algo está mudando, fica muito mais fácil de aceitar.

Infelizmente, já passei por vários lugares em que o padrão é esconder o máximo de informações possível e apenas passar a decisão final. Essa é uma abordagem arriscada, porque nem todas as pessoas estão dispostas a esperar para ver o que vai dar. Por isso, entendo que o melhor é ser transparente e ajudar as pessoas que estão recebendo a mudança a entender os motivos. Assim, os agentes da mudança nos ajudam a encontrar o lado positivo o mais rápido possível e, quem sabe, reverter possíveis decisões mais drásticas.

Como gestora, procuro dar essa visibilidade para o time. Mas como alguém que também é gerenciada por um gestor, uso momentos como os 1:1’s para buscar o contexto quando entendo que ele está faltando. Se não consigo entender o que está acontecendo ou enxergar os benefícios sozinha, costumo buscar por ajuda nos níveis acima e nos meus pares.

Coisas ruins podem acontecer em qualquer lugar

Esse é um tópico que eu conversei bastante com algumas pessoas nos útlimos tempos. Mesmo estando em um ambiente muito bom, nós temos que lembrar que no fim do dia somos um negócio. E decisões de negócio nem sempre são vistas como boas. É engraçado pensar nisso porque uma pessoa pode falar muito mal de uma situação, ao mesmo tempo que outra pessoa fala com uma visão totalmente otimista. Acredito que aqui caímos novamente na mesma situação do contexto visível ou não.

Quando temos pouca experiência ou não entendemos muito bem como empresas funcionam, podemos enxergar tudo como algo inexplicável ou que não tinha razão para acontecer. Depois que entrei na gestão de pessoas e comecei a ter uma visão maior do contexto, percebi que o que sempre me faltou foi informação. Por isso, tento passar o máximo de contexto possível para o time.

Entendo que se todos acompanharem os resultados durante o ano, se prestarem atenção no que é divulgado e se manterem atentos a todos os recados, metade das dúvidas mais comuns serão sanadas. Mas percebo que algumas informações que todos deveriam saber não são de conhecimento geral do time. E isso me preocupa um pouco.

Não estou dizendo que injustiças não acontecem. Eu acompanho pessoas e comunidades que mostram o quanto as empresas estão perdendo a mão na gestão de pessoas. Mas a consciência que construí com todos esses tópicos que descrevi me permitem ver as coisas de forma menos trágica. Obviamente quando não estamos falando de casos extremos.


Não quero desanimar ninguém com isso que escrevi. Mas acho que não é muito útil apenas compartilhar conceitos sem deixar claro que eu também passo por problemas.

Desde quando publiquei o “Hack de carreira”, eu nunca mais postei nada tão descritivo sobre o meu trabalho. Até porque estou tentando focar no lado positivo dele: contribuir para algo maior, aprender e me desenvolver e conviver com pessoas e profissionais ótimos. Mas, apenas reforçando, eu sei que um dia tudo isso pode acabar. A diferença é que agora eu sairia sabendo que fiz o meu melhor e que aproveitei todas as vantagens disponíveis enquanto estive trabalhando. Em momentos anteriores eu não pude sair com esse sentimento.

Espero que, se você está passando por um momento em que não está tão legal, essas reflexões te ajudem a repensar a sua situação. Lembrando que o processo terapêutico é muito mais recomendável do que os conselhos do meu post. Considere o que eu compartilho aqui como um desabafo e uma motivação. A mudança de verdade vai acontecer a partir do momento em que você decidir como quer viver a sua vida e agir em relação a isso.

Como sempre, a caixa de comentários está aberta para críticas, dúvidas e sugestões.

Até a próxima.

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