Ícone do LinkedIn Ícone do RSS Ícone do Lnk.Bio

20 Nov 2023 | 10 minutos • Carreira

Novas tendências no mercado de trabalho

Como interpreto os movimentos que estão acontecendo

Ingrid Machado

Ingrid Machado

Engenheira de computação, especialista em engenharia de software. Autora deste querido blog.

Image de capa do post Novas tendências no mercado de trabalho
Foto de Iewek Gnos, via Unsplash

Desde o início da pandemia, parece que a cada momento surge um novo termo ou um novo movimento relacionado ao mercado de trabalho. Se pensarmos do ponto de vista que a quarentena fez as pessoas questionarem o que estão fazendo com as próprias vidas, esse cenário faz muito sentido.

As gerações anteriores valorizavam uma carreira com crescimento estável em uma única empresa. A minha geração já se encaixa num cenário em que trocamos de empresa de acordo com as oportunidades encontradas. E a nova geração do trabalho indica que o propósito pessoal está na frente do propósito da empresa.

Mas não gosto de classificar as pessoas de acordo com a geração. Porque é muito possível que alguém mais novo queira uma carreira estável numa mesma empresa e alguém mais velho queira experimentar novas oportunidades. Para mim, o ponto comum de qualquer movimento que eu vou compartilhar aqui é a ideia de que somos todos indivíduos emprestando o nosso tempo e as nossas habilidades para que as empresas prosperem. E, assim como emprestamos grande parte da nossa energia, esperamos que o outro lado reconheça o trabalho que está sendo feito.

Quais são as novas tendências

Existem diversos movimentos surgindo e escolhi destacar seis deles nesse post.

Quiet quitting

O primeiro movimento que quero destacar é o “quiet quitting” ou “demissão silenciosa”, em tradução livre. O “quiet quitting” consiste em encerrar o expediente no horário, fazer apenas as tarefas que estão na descrição do seu cargo e ter uma divisão mais clara entre vida pessoal e vida profissional.

Ja falei sobre esse movimento nesse post e creio que ele é bem completo para expressar a minha opinião a respeito. Apenas para deixar registrado novamente, não consigo entender a revolta de algumas pessoas com o “quiet quitting”. Se estamos numa empresa em que acordamos fazer um trabalho em troca de salário e benefícios e estamos cumprindo com esse acordo, não faz sentido criticar.

Entendo todas as pessoas que criticam porque acham que o profissional precisa ir além para se destacar ou crescer. Mas é importante lembrar que nem todos querem se destacar ou avançar no lugar em que estão. Por isso, se limitam a fazer apenas o que é esperado. Acredito que muitas pessoas já viveram a situação em que vamos além e não recebemos nenhum reconhecimento por isso. Na minha visão, esse movimento é a resposta de que a relação trabalhista deve ser equilibrada. Se a empresa precisar de algo a mais, basta recompensar por essa demanda extra que ela será feita.

Lazy girl job

O “lazy girl job” pode ser traduzido como “emprego para menina preguiçosa”. Mas esse é um nome que talvez não faça jus ao que o movimento propõe. A ideia do “lazy girl job” é que as mulheres se mantenham em empregos flexíveis e com renda sustentável. Assim como no “quiet quitting”, ele também se preocupa com o equilíbrio entre a vida pessoal e a vida profissional.

Depois de experimentarmos o home office e conseguirmos ter uma rotina mais saudável e agradável, é totalmente compreensível existir um movimento em que as pessoas esperam manter isso. A visão geral do papel do trabalho na nossa vida mudou e não precisa mais ser a única coisa existente na semana útil.

Querer trabalhar em um lugar que permite seguir uma rotina organizada, com exercícios e hobbies durante a semana deveria ser uma opção para todas as pessoas. Não é saudável dedicar muitas horas por dia ao trabalho com a vida pessoal existindo apenas no final de semana.

Quiet ambition

Como mencionei, temos a ideia geral de que as pessoas querem crescer na carreira e ir mudando de cargo e salário ao longo do tempo. Mas esse é um movimento que mostra que esse plano vem perdendo força. O “quiet ambition” ou “ambição silenciosa”, em tradução livre, representa quem não deseja avançar na carreira para ter mais qualidade de vida.

Uma pesquisa indicou que as pessoas estão evitando cargos de gestão para ter mais tempo livre. E que as responsabilidades associadas à liderança, o estresse e a pressão são outros motivos para que os profissionais não queiram ser promovidos. A maioria das respostas também indica que passar tempo com a família e com os amigos, ter saúde física e mental e viajar são as três prioridades das pessoas. Deixando objetivos profissionais com uma prioridade bem menor.

Mais uma vez, estou falando de um movimento gerado pela visão de que não somos feitos apenas do nosso trabalho. Ter objetivos profissionais é bom, mas talvez eles devam ser planejados de forma que a realização profissional não atrapalhe na qualidade da vida pessoal.

Vida Além do Trabalho (VAT)

A lei trabalhista atual permite a escala 6x1. Essa é uma escala em que se trabalham 6 dias e se folga em apenas 1. Por ser uma escala cansativa e que não permite que se tenha qualidade de vida, o movimento “Vida Além do Trabalho” surgiu para solicitar uma revisão na legislação atual.

Assim como nos outros movimentos, as pessoas entendem que não querem mais viver para trabalhar. Mas a diferença é que esse é um movimento brasileiro, que tem inclusive um abaixo-assinado disponível para quem quiser apoiar na causa. É uma tendência muito mais palpável e que acredito que muitas pessoas conseguem se identificar.

The nap ministry

O “The nap ministry”ou “Ministério da soneca” destaca a importância de descansar durante o dia para se manter em um estado mental satisfatório. A ideia é que qualquer tempo que sobra durante o dia seja usado para um cochilo ou para sair da tela do computador.

Quando estamos cansados, perdemos nossa capacidade de funcionar normalmente e podemos ficar doentes. Como sempre somos influenciados a trabalhar sem descanso e a dar o nosso melhor, podemos esquecer que precisamos de atenção. E esse movimento incentiva o descanso, o cuidado com o próprio corpo e a saída dessa cultura trabalhista que nos destrói como indivíduos.

Além de querer ter tempo para ter uma vida, esse movimento é interessante porque lembra que somos seres humanos. E todos nós temos necessidades que não podem ser negligenciadas. Mas que, infelizmente, são deixadas de lado por muitas pessoas, que colhem péssimos resultados no futuro.

Direitos descansistas

Os “direitos descansistas” representam o outro movimento nacional dessa lista. Ele é um manifesto pelo direito de descansar, com um relatório que lista diversos dados a respeito do cenário trabalhista que levou a sua criação. Ele aponta que o descanso é um direito garantido pela Declaração Universal de Direitos Humanos, pela Constituição Federal e pela CLT (Consolidação das Leis do Trabalho).

A declaração dos direitos descansistas tem 10 direitos que resumem bem o que o movimento tem como objetivo:

  1. Descanso é um direito
  2. Redução de jornada de trabalho
  3. Pais presentes, mães descansadas
  4. Metas corporativas sustentáveis
  5. Reconhecimento do trabalho do cuidado
  6. Manutenção do trabalho remoto
  7. Maternidade não será compulsória
  8. Preservação e ampliação dos direitos trabalhistas das domésticas
  9. Criar crianças é um trabalho coletivo
  10. A luta contra as desigualdades também é uma luta pelo nosso direito ao descanso

Assim como no movimento anterior, os “direitos descansistas” reforçam a importância de se ter o descanso na rotina para uma vida plena e uma saúde em dia.

O que todos esses movimentos indicam

Acabei me adiantando na apresentação dos movimentos, mas acredito que fica bem claro o que essas tendências indicam. Antes mesmo de estarmos em quarentena, já sabíamos que a relação de trabalho não era vantajosa para muitos profissionais. Mas, quando tivemos a chance de parar para refletir o que estamos fazendo com as nossas vidas, percebemos o quanto vivemos em piloto automático.

Na minha opinião, todos esses movimentos indicam que as pessoas perceberam que a vida não precisa ser apenas trabalhar. Que todos temos direito à qualidade de vida, saúde e compensação justa pelo trabalho. Não é preciso separar o eu no trabalho e o eu fora do trabalho. O que é preciso é acomodar o trabalho dentro da nossa vida para que ele faça parte e não tome conta.

Como gestora, eu olho para esses movimentos e penso no que preciso fazer para que todos os meus liderados consigam equilibrar os seus trabalhos com as suas vidas. Obviamente, a minha atuação nesse ponto é limitada. Quem precisa me deixar claro que não está conseguindo equilibrar é o próprio liderado. Até porque não tenho visibilidade da rotina como um todo. Mas preciso sim me comprometer a fazer o possível para apoiar assim que essa ajuda me for solicitada. E os 1:1’s são momentos muito propícios para entender o quanto cada integrante do time precisa de ajuda.

Quais cuidados precisamos tomar

A cada notícia que vejo sobre esses movimentos, também vejo críticas sobre as pessoas que ousam reclamar que a forma que trabalhamos hoje não é a ideal. Nos comentários das notícias sempre existem muitas pessoas falando que trabalho é trabalho e não devemos reclamar.

Por isso, a minha recomendação é que se tenha primeiro um entendimento do que gostaria de mudar e do espaço disponível para sugerir essas mudanças. Por mais que todos saibam (ou digam que sabem) que o ideal é termos ambientes saudáveis e seguros para trabalhar, nem todas as pessoas estão nesses ambientes. Ou não possuem lideranças que concordam com essas mudanças. Até por isso é comum que essa reflexão cause uma troca de emprego.

Também é importante destacar que muito profissionais são privilegiados, inclusive eu. Movimentos como o “Vida Além do Trabalho” mostram que existem pessoas em condições trabalhistas bem estressantes. E não podemos deixar de dar atenção e apoio a essas causas só porque não somos afetados por elas.

Como refletir sobre a nossa carreira a partir desses movimentos

Mas é sempre bom lembrar que se algo está ruim e ninguém fizer nada, nada vai mudar. E pior do que lidar com as mudanças é precisar seguir com uma situação que não nos faz bem. Por isso, entendo que devemos sim refletir sobre a nossa situação atual, o que queremos no futuro e se onde estamos agora vamos conseguir atingir esse objetivo.

Já passei por situações em que parecia que estava tudo normal. Mas só de parar para pensar, percebia que não estava em um ambiente que me permitia ter vida pessoal ou que não me desafiava mais intelectualmente. Evitei esse tipo de situação a partir do momento em que comecei a fazer reflexões constantes sobre a minha carreira e sobre o que eu valorizo mais na minha vida. Assim, não sou pega de surpresa e consigo fazer ações corretivas ou mudanças maiores com mais calma.


É bom estar atento ao que está acontecendo no Brasil e no mundo em relação ao mercado de trabalho. Principalmente para entender se estamos vivendo no molde que gostaríamos ou no molde que nos é imposto. Acredite em mim, é muito comum estar vivendo no piloto automático, sem parar para pensar se o que temos é o que queremos. Então, reforço a recomendação de que se faça a avaliação constante dos rumos da sua carreira para evitar armadilhas.

Espero que aqui no blog sempre fique claro o quanto eu gosto do meu trabalho e do papel que exerço. Mas quero deixar claro também que gosto do meu trabalho porque fiz diversas mudanças que me permitiram estar no formato que considero ideal para mim. Algumas mudanças contaram com o apoio da minha liderança, mas a maioria dependeu apenas de mim e do quanto eu estava insatisfeita com a minha situação.

Espero conseguir continuar seguindo o meu próprio conselho e não deixar de fazer essas reflexões constantes. Também espero que esse post tenha sido útil.

Até a próxima!


Referências

O link do post foi copiado com sucesso!

Mais conteúdos de Ingrid Machado

Imagem de capa do post Não seja o seu trabalho

18 Mar 2024 • Carreira

Não seja o seu trabalho

Escrevo esse post após um período lendo muitos relatos sobre pessoas que não conseguem se desvincular do trabalho ou que dedicam a sua vida totalmente a alguma empresa. Decidi escrever novamente so...

4 minutos

Imagem de capa do post Reflexão sobre mudanças

15 Jan 2024 • Carreira

Reflexão sobre mudanças

Quando escrevi a série “Lidando com mudanças”, estava em um momento em que precisava aceitar a condição de que tudo muda ou me manter sofrendo a cada situação que me tirasse da zona de conforto. Ap...

9 minutos

Imagem de capa do post Segunda passagem do pipeline de liderança

28 Ago 2023 • Carreira

Segunda passagem do pipeline de liderança

No post sobre a primeira passagem do pipeline de liderança, falei sobre a transição inicial para o papel de gestor de pessoas. O passo seguinte de gerenciar outros é se tornar o gerente desses gest...

5 minutos

linkedin icon
LINKEDIN
Twitter icon
TWITTER
RSS icon
RSS
Lnk.Bio icon
LNK.BIO

Ingrid Machado © 2019 - 2024

• Ingrid Machado © 2019 - 2024

• Layout por Victoria Facundes • Desenvolvido por Cristhian Rodrigues

VOLTAR AO TOPO

voltar para o topo