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05 Set 2022 | 8 minutos • Carreira

Quiet quitting: o movimento de trabalho saudável

O que é e porque não faz sentido

Ingrid Machado

Ingrid Machado

Engenheira de computação, especialista em engenharia de software. Autora deste querido blog.

Image de capa do post Quiet quitting: o movimento de trabalho saudável
Foto de Tonik, via Unsplash

Nas últimas semanas, um termo chamado quiet quitting tomou conta das discussões no LinkedIn. Em tradução livre, estou falando da demissão silenciosa. Só que a definição não parece se encaixar com o termo. A demissão silenciosa consiste de encerrar o expediente no horário, fazer apenas as tarefas específicas do papel e ter uma divisão mais clara entre vida pessoal e profissional.

Como uma workaholic em recuperação, ver um termo como esse me deixa muito preocupada. E é sobre o porquê esse termo não faz sentido que quero falar no post de hoje.

Porque me considero uma workaholic em recuperação

Há alguns anos, tive uma experiência profissional em que não havia uma clara separação entre a minha vida dentro e fora do trabalho. Era bem comum eu chegar às 8h da manhã para trabalhar e não encerrar o expediente às 18h. Em algumas vezes, eu ficava no trabalho até o dia seguinte, ia para casa tomar um banho e dormir um pouco e depois voltava para trabalhar.

Hoje em dia eu sei que não era uma rotina saudável e sei que não estou disposta a trabalhar assim novamente. Mas, naquela época, eu acreditava estar sendo uma profissional que veste a camisa. Era uma pessoa fora da curva. Aquela que, se não estivesse sempre disponível, não seria merecedora de uma promoção ou qualquer reconhecimento.

Bom, mesmo com toda essa dedicação, eu nunca fui promovida ou considerada como alguém para assumir projetos com uma participação importante. Muito pelo contrário, eu fui transferida diversas vezes para projetos que estavam pegando fogo e vivia em constante estado de alerta com o trabalho. A minha vida pessoal estava em segundo plano e eu não ganhava nada com isso. Na verdade, eu só perdia e não percebia.

Quando troquei de emprego, estava decidida a ir para um ambiente mais saudável e ter um dia a dia mais tranquilo. E, mesmo encontrando esse cenário, eu mesma segui me cobrando e trabalhando num ritmo muito mais rápido do que o necessário. Por isso, venho trabalhando no último ano para lidar com um ambiente de startup de forma saudável, porque é muito fácil cair na tentação de virar uma pessoa altamente dedicada ao trabalho novamente.

E não pense que existe uma pressão no meu trabalho, que eu precise lutar contra. Muito pelo contrário. Eu recebo direcionamentos para organizar melhor as minhas atividades e o meu tempo. Por isso, sei que é mais uma luta interna do que externa.

Eu gosto do meu trabalho atual e estou em formato remoto, então essa é uma receita pronta para perder o ritmo e esquecer que tenho vida pessoal. Por isso, como me dedico ativamente a manter uma rotina saudável, que equilibre as minhas vidas pessoal e profissional, digo que sou uma workaholic em recuperação.

Porque quiet quitting não faz sentido

Quando somos contratados, sempre existem acordos. A empresa diz o que espera de você (atividades, horários, responsabilidades, etc.) e você diz o que espera dela (salários, benefícios, cultura, etc.). Tudo isso faz parte de uma negociação que, quando firmada, resulta em uma contratação.

Agora imagine que você está cumprindo a sua parte do acordo: fazendo as suas atividades, cumprindo o horário combinado e assumindo as responsabilidades. E então recebe o feedback de que não está indo além e por isso a empresa entende que você está se demitindo silenciosamente.

Bom, receber um feedback de que não estamos indo além é até comum e basta a você dizer que não vai além porque realmente está satisfeito com a posição que ocupa no momento e não tem pretensão de avançar. E tudo bem, nem todo mundo precisa estar correndo atrás de uma promoção ou movimentação, isso é saudável para a empresa, inclusive. Mas, considerar que isso é uma demissão silenciosa, num primeiro momento, vai além da compreensão.

Só que parando para pensar, podemos entender a malícia por trás desse termo que até agora eu ainda acho engraçado. Caso você vá além e fizer horas extras, por exemplo, essas horas serão pagas? Se você assumir responsabilidades de um papel diferente do seu, existe a possibilidade de ser promovido e assumir esse novo cargo com uma promoção? Caso a resposta seja não, então não está sendo entendido que você está se demitindo silenciosamente, mas sim que você não está jogando o jogo corporativo que espera que você seja explorado e gere cada vez mais sem ganhar nada além em retorno.

Qual seria o termo correto?

Eu vejo que o correto seria “ter vida pessoal” ou “cuidar da saúde mental”. Eu já experimentei os dois lados da moeda e tem tanta coisa que a gente não valoriza que, quando se percebe que perdeu, não se recupera mais. Mas a boa notícia é que várias outras coisas são possíveis de recuperar.

Então não se sinta mal caso veja várias opiniões falando que a demissão silenciosa é um problema e que ninguém mais veste a camisa. Cada pessoa sabe o que é melhor para si em cada momento da sua carreira e ninguém vai se encaixar nas expectativas de todo mundo.

O termo em si vem de um movimento em resposta a empresas com culturas tóxicas e que normalizam os funcionários com burnout, sem fazer nada para reverter a situação. Quem ecoa que fazer o que foi contratado é um comportamento ruim, provavelmente apoia esse tipo de ambiente.

Como ter uma divisão entre vida pessoal e profissional

Como comentei anteriormente, estou trabalhando para organizar as minhas atividades e o meu tempo. Sei que sou privilegiada pelo cargo e pela área na qual eu trabalho. Por isso, nem tudo que eu faço pode ser aplicado em todos os casos. Mas gostaria de compartilhar algumas mudanças que venho fazendo para conseguir estabelecer limites saudáveis e que acredito que podem ser úteis para mais pessoas.

Horário de início e fim do expediente

Já tem bastante tempo que venho respeitando os horários do meu expediente. Principalmente o horário de fim. É muito fácil se distrair e, de repente, ficar um pouco mais resolvendo alguma coisa. Nesses casos, compenso no dia seguinte, caso não tenha nenhuma reunião no primeiro horário. Senão, tento me programar para sair um pouco mais cedo em algum dia em que preciso resolver alguma coisa.

Horário de almoço estendido

Trabalhando de casa, comecei a pedir delivery praticamente todos os dias, para não extrapolar a 1 hora de almoço. O problema é que não estava sendo nada saudável e comecei a sentir os efeitos em pouco tempo. Para ter um dia a dia mais saudável, passei a marcar na minha agenda 1 hora e 30 minutos de almoço. Tempo que não consigo cumprir apenas se houver alguma reunião importante marcada nesse intervalo. O que não costuma acontecer.

Com esse tempo, consigo fazer o almoço, almoçar, descansar após a refeição e ainda dar um jeito na cozinha. Além do benefício para a saúde, também vejo que volto muito mais disposta e descansada para o turno da tarde. Até o momento, esse horário estendido não trouxe nenhum prejuízo e não me vejo voltando para a 1 hora que fazia antes.

Organização da agenda

Para evitar que eu passe o dia em reunião, sem fazer nenhuma das minhas atividades, costumo incluir momentos de foco na minha agenda. Já tenho o costume de anotar tudo o que preciso fazer em um caderno e, nesses momentos de foco, percorro cada um dos itens em ordem de prioridade.

Assim, consigo encerrar meu dia mais facilmente. Principalmente por conseguir ter a sensação de ter completado tarefas e não só criado uma lista de pendências.

Pausas durante o dia

Assim como organizo a minha agenda para realizar as minhas atividades, também organizo para ter momentos de pausa. Por isso, evito marcar reuniões coladas umas nas outras.

Nestes momentos de pausa, costumo levantar um pouco, pegar mais água, ler ou estudar e, algumas vezes, só dar uma afastada do computador mesmo. Muito do trabalho da área em que atuo pode ser feito longe do computador e essas pausas me permitem estar sempre no meu melhor para resolver os problemas.

Desligar o computador

Essa é uma dica que ainda estou trabalhando. Como tenho mania de abrir várias janelas e várias abas no computador durante o dia, eu fico com preguiça de desligar todos os dias. Mas, quando não faço isso, deixo o computador no silencioso e com o monitor desligado. Assim, não fico ansiosa ou distraída com qualquer notificação do trabalho.

Desligar as notificações do celular

Eu tenho o email e o Slack do trabalho no celular para quando cai a luz ou a internet. Mas, para não deixar o trabalho invadir a minha vida pessoal, eu não tenho nenhuma notificação habilitada no celular. Então, caso precise usar o celular nesses casos emergenciais, eu deixo os aplicativos abertos para acompanhamento.

Ter uma rotina antes e depois do trabalho

Sempre acordava no horário limite para me arrumar e sair de casa para trabalhar. E, no home office, costumava me levantar no horário de ligar o computador. Depois que decidi testar acordar mais cedo e ter uma rotina antes do trabalho também, sinto que estou bem menos cansada, a semana passa mais rápido e eu inicio o trabalho mais disposta.

A minha rotina matinal inclui me arrumar com calma, tomar café da manhã assistindo o jornal e bordar. Depois do trabalho, eu jogo videogame, escrevo, janto vendo vídeos no Youtube e leio.

A sensação no final do dia é que eu tive um dia muito mais longo do que eu costumava ter. Antes a sensação era que eu trabalhava, jantava e dormia. Agora eu tenho a sensação de que o trabalho foi apenas uma parte do meu dia, porque eu tive outras coisas acontecendo que, anteriormente, eu esperava o final de semana para fazer.


Essas são só algumas dicas que eu tento aplicar para manter uma relação saudável com o trabalho. Este post contém mais algumas dicas para quem trabalha remotamente e que podem te ajudar também.

Espero que esse texto tenha te ajudado a refletir sobre essa tendência meio enganosa e te faça pensar sobre os perigos de não se priorizar. Todos nós podemos ser bons profissionais sem deixarmos de ser pessoas saudáveis.

Na Trilha de Valor dessa semana, vou falar sobre esse assunto do ponto de vista de uma gestora de pessoas. Porque, além de ser importante cada um ter consciência dos seu limites, também é papel do gestor guiar quem tem dificuldade com isso.

Até a próxima!

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