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08 Abr 2024 | 11 minutos • Desenvolvimento pessoal

Reflexões sobre redes sociais

Existe vida offline

Ingrid Machado

Ingrid Machado

Engenheira de computação, especialista em engenharia de software. Autora deste querido blog.

Eu estou sempre compartilhando a minha batalha contra o uso exagerado de redes sociais. E no início desse ano, o meu marido tomou uma decisão que vem me influenciando bastante no modo como me relaciono com o meu smartphone. Ele decidiu sair de vez das redes sociais.

Não foi uma decisão do nada. A gente já vinha conversando sobre o quanto gastávamos o nosso tempo olhando para o celular e deixando coisas importantes do dia para depois. Além disso, algumas redes são tóxicas de um jeito particular, cada uma nos afetando de forma diferente.

Por isso, tomei a decisão de ser um pouco mais rígida com o meu uso. Não estou saindo totalmente, mas quero compartilhar algumas reflexões sobre as mudanças que estou aplicando e como percorremos esse caminho que chegou às conclusões que vou descrever.

O tempo gasto no celular

O primeiro ponto que nos fez conversar muito a respeito das redes sociais é quanto tempo passamos imersos no celular. Algumas vezes, eu falo alguma coisa e o meu marido acena como se estivesse ouvindo. Mas, na verdade, não entendeu nada do que falei. Eu reclamo, mas, em outras ocasiões, eu sou a pessoa que está distraída olhando outra coisa e fingindo que está ouvindo.

Esse tipo de comportamento afeta e muito o nosso relacionamento. Por isso, há muito tempo atrás, tivemos uma conversa importante sobre prestar atenção no outro e não tentar parecer que está prestando atenção. Tudo bem falar que agora não pode e daqui a pouco nos falamos. É bem melhor do que sinalizar que pode falar e não ouvir nada do que foi dito. É um desgaste totalmente desnecessário na relação.

Outro ponto importante é que ficar no celular se torna uma atividade que toma a maior parte do tempo fora do trabalho. Em certo momento, eu passava no celular a manhã inteira antes de ir trabalhar, durante o horário do almoço e depois do trabalho. Um dia, ao ver quantas horas o monitor de atividades tinha registrado no celular durante um sábado, percebi que boa parte do meu tempo acordada era olhando para a tela. E foi nesse momento que fiz a primeira mudança.

Comecei a usar o monitor de atividades da Samsung para limitar o meu tempo em determinados aplicativos, principalmente no Twitter. Antes dele ser comprado pelo Elon Musk, eu passava muito tempo acompanhando eventos ao vivo através do aplicativo e não sabia assistir nada na TV sem acompanhar os comentários no Twitter. Por mais legal que fosse acompanhar séries de forma coletiva, o meu foco estava sendo cada dia mais prejudicado.

E o outro ponto que me fez pensar muito sobre o meu tempo no celular é a minha saúde. Passar o dia inteiro olhando para uma tela, recebendo doses constantes de dopamina e sentada sem postura correta cobra o seu preço. É nítida a diferença dos dias que deixo o celular de lado. Consigo ficar tranquila vendo um filme, foco bastante ao ler um livro e não me estresso quando decido fazer os meus bordados em silêncio.

Cada rede social tem seu próprio jeito de nos fazer mal

Além de todas as implicações que já comentei, entendo que cada rede social nos afeta de maneira diferente.

No Twitter, temos sempre a questão da novidade. A cada vez que abro o aplicativo, vou encontrar uma história, uma curiosidade, uma notícia ou qualquer outro acontecimento que todas as pessoas estão comentando. Porque lá todos têm uma opinião que precisa ser expressa, mesmo que essa opinião esteja contra a lei.

Além disso, também existe o fato de que qualquer frase no Twitter vai ser rebatida com alguma situação extremamente específica que não foi abrangida no seu texto de poucos caracteres. Falar que comer frutas é bom na vida real é apenas uma informação. No Twitter, é uma discussão a respeito do acesso às frutas por todas as camadas da população, a atuação do agronegócio e as pessoas que são alérgicas e não podem comer o que quiserem.

Eu sinto que ficar imersa nessas discussões me torna uma pessoa muito desconfiada. Às vezes, estou escrevendo um post e fico pensando: será que alguém vai ler isso e vai pensar que não sei que nem todas as pessoas têm acesso ao que estou falando? E aí entro numa espiral de ficar me justificando a cada texto. Se afastar do Twitter é bom para voltar a ter tranquilidade, porque essa é a única explicação para essa minha preocupação. Eu nunca tive nenhum email ou comentário falando comigo de forma agressiva, ou rebatendo o que escrevia com falta de educação. Então, não foi aqui no blog que aprendi a ser assim.

Comparando com outra rede social que não costumo entrar muito, o Twitter está até um pouco mais leve. Entro pouco no Intagram, mas, a cada visita, entendo porque essa rede social está inviável. E os problemas dela, na minha opinião, são bem diferentes.

Em primeiro lugar, entrar na pesquisa é receber uma enxurrada de conteúdo gerado por inteligência artificial (IA). Uso muito o Instagram para buscar inspirações para os bordados que estou aprendendo a fazer. E tenho notado o quanto as publicações desse tipo estão sendo tomadas por imagens feitas por IA. O pior de tudo é que muitos usuários vendem esse conteúdo como artesanal e várias pessoas pedem o link de compra nos comentários.

Em segundo lugar, as propagandas tomaram conta. Assim como no Twitter, entrar no Instagram é ver uma publicação de alguém que sigo e umas 5 publicações de posts patrocinados. Eu sempre fico com vontade de gastar dinheiro quando rolo a timeline e, na maioria das vezes, são com coisas que nem estou precisando. Quem sofre com o consumo desenfreado precisa sair um pouco das redes sociais, porque os anúncios estão cada vez mais bem direcionados para o público alvo. O que significa que está cada vez mais difícil ver um anúncio e não se convencer de que precisamos comprar alguma coisa.

Em terceiro lugar, o ponto mais crítico do Intagram para mim é a seção de comentários. É impressionante como as pessoas destilam ódio, têm falas preconceituosas e criticam quem aparece nas publicações como se não existisse o mínimo de etiqueta nas redes sociais. Eu já estava acessando pouco, mas após ver uma publicação sobre como aplicar uma lace ser inundada de comentários sobre racismo reverso, eu apenas fechei o aplicativo e nem precisei usar o timer do monitor de atividades para limitar o meu uso.

Atividades offline

Uma coisa curiosa que acontece quando decidimos parar de usar o celular constantemente é ficar em dúvida sobre o que fazer com o tempo disponível. Eu faço parte de uma geração que cresceu sem celular, então eu deveria ter facilidade para fazer atividades offline. Mas a realidade é que eu estou tão acostumada a ficar conectada, que parece que me esqueci que existe vida fora da internet.

As atividades de casa estão até mais espaçadas agora que tenho mais foco. Como deixava para arrumar a casa apenas quando percebia que ela precisava ser arrumada, precisava parar tudo o que estava fazendo e me dedicar à faxina. Agora, conseguimos fazer um pouco todos os dias e manter a casa bem organizada na maior parte do tempo

Ler é outra atividade que toma grande parte do meu tempo. Desde que voltei a ler, sinto que estou mais focada e paciente. Consequências que eu nem esperava ter com a leitura. Quando penso que estou lendo há muito tempo, sempre tento fazer a comparação com o tempo que passava no Twitter. Na maioria das vezes, esse tempo lendo não chega nem perto.

E estou escrevendo bastante. Acredito que essa atividade é uma consequência direta da leitura. Gosto de registrar o que aprendi e o que achei de cada leitura. Também gosto de compartilhar o que aprendi e que considero que pode ser útil para mais pessoas. E escrever, revisar e publicar é um ótimo exercício de foco e disciplina.

Como mantenho frequências de publicação distintas nos meus projetos, sou obrigada a me manter organizada com a produção e disponibilização desse conteúdo. E consigo notar o quanto mudei a forma de organizar a minha rotina para que essa organização se mantenha leve e caiba no meu dia a dia.

Também estou aprendendo a bordar. É uma atividade bem específica, mas já havia tentado outros artesanatos antes e não gostava do que produzia em nenhum deles. Com o bordado, posso usar desenhos feitos por outras pessoas como base, o que me ajuda muito a gostar mais do resultado. Ainda sou iniciante, mas já fiz algumas coisas interessantes e pretendo decorar a minha casa com algum desenho meu quando estiver mais experiente.

Tenho me dedicado bastante a cozinhar, principalmente porque quero diminuir o número de deliveries na semana. Enquanto cozinho, gosto de ouvir podcasts ou audiobooks e o tempo acaba passando bem rápido. O processo de definir o cardápio da semana, fazer o mise en place, preparar a comida e separar as marmitas da semana é um dos mais lentos que tenho no meu dia a dia. Cozinhar é uma atividade que me deixa tão imersa que às vezes nem presto atenção no que estou ouvindo ou até esqueço de colocar alguma coisa para tocar.

Muitas dessas atividades estão me ajudando na minha jornada de mindfulness. As redes sociais me afastam do momento presente e essas pequenas coisas do dia a dia me colocam de volta no eixo e me fazem pensar no agora.

Um jeito melhor de usar a internet

Dentre as atividades que tenho feito durante o meu tempo livre, ainda incluo mexer no celular. A diferença é que agora eu consigo controlar se estou me perdendo nele ou não. E também escolho melhor o que fazer enquanto estou na internet.

Atualmente, temos assistido muitos vídeos no YouTube. Temos a assinatura do YouTube Premium, então usamos o aplicativo sem propagandas na televisão da sala. Além de estarmos consumindo conteúdos maiores e mais lentos, estamos fazendo isso juntos. Consumir o mesmo que o meu marido nesses momentos sempre gera discussões interessantes e a velocidade do que vemos no YouTube não nos deixa impacientes.

Tenho lido várias newsletters no meu email e no aplicativo do Substack. Quando quero um texto mais rápido, vou direto nessas opções. Também gosto de visitar alguns blogs e ler algumas revistas e HQs no Kindle Unlimited. As redes sociais são tão famosas que é fácil esquecer que existem muitos conteúdos fora delas na internet.

Sempre que vejo alguém tweetando que os blogs morreram, fico pensando no volume de visitas que tenho aqui no meu blog e na quantidade de blogs que acesso frequentemente e são mantidos atualizados constantemente até hoje. Essa é uma ótima plataforma para quem quer falar sobre o que gosta e sempre vai ter alguém com um gosto similar que vai querer saber o que você tem para compartilhar. Pensar que alguma coisa morreu apenas porque você não consome é limitar e muito o potencial do que temos disponível online.

Outra forma que uso e muito a internet para ler são as plataformas de leitura. Tenho acesso a uma assinatura do O’Reilly Learning e leio muitos livros que costumam ser bem caros por lá. Para quem quer ler gratuitamente, a aplicativo da BibliON e do Skeelo disponibilizam muitos livros de graça. Gosto de ler mais pelo iPad, pelo tamanho da tela. Mas já li vários livros pelo celular de forma agradável, apenas configurando a página de leitura para ficar um pouco menos cansativa para os olhos.

A internet tem muitos lugares interessantes que podem ser explorados para trazer valor para o nosso dia a dia. O problema é que acabamos nos limitando pelo que chega via redes sociais e pelos primeiros resultados das pesquisas do Google. Mas existem muitas comunidades que reúnem muitas fontes que podem abrir a nossa visão do que tem disponível online.

Quando estou procurando algo novo, gosto de entrar no Reddit e procurar subreddits a respeito do tema que estou interessada. Independentemente do tema, certamente existe uma comunidade sobre ele com muitas dicas do que explorar. Das redes sociais existentes, o Reddit é a que eu mais me sinto confortável usando e a que eu sinto que tem menos gatilhos para me manter presa dentro dele.


A minha intenção com esse texto não é demonizar as redes sociais. Acredito que todas servem para propósitos que podem ser úteis. E talvez a bolha que sigo pode influenciar na minha visão negativa. Mas esse texto é um convite para quem está sentindo que está sendo controlado pelas redes sociais. Certamente não estamos sozinhos nessa sensação e não precisamos nos sentir sozinhos no momento de lutar contra isso.

É sempre bom lembrar que existe vida fora da internet, mas também tem vida dentro dela. Por isso, saber se relacionar melhor com o que está disponível é o melhor caminho, na minha opinião.

O livro “Resista: Não faça nada” fala sobre o estar presente no momento e lugar que vivemos. Considero uma boa leitura para quem está passando por esse mesmo momento de fazer reflexões.

Espero que você consiga encontrar formas de se relacionar melhor com o seu smartphone. Caso já saiba, os comentários estão abertos para que possas compartilhar as tuas dicas.

Até a próxima!

O link do post foi copiado com sucesso!

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