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21 Out 2020 | 4 minutos • Carreira

Desigualdade racial no mercado de trabalho

Não podemos fingir que não existe

Ingrid Machado

Ingrid Machado

Engenheira de computação, especialista em engenharia de software. Autora deste querido blog.

Image de capa do post Desigualdade racial no mercado de trabalho

Esse é um assunto muito importante, independente do momento que estamos vivendo. Mas trago ele hoje como um ponto de discussão, após a repercussão da entrevista da Cristiane Junqueira no Roda Viva. Ela é co-fundadora do Nubank e ao ser questionada sobre as ações para incluir negros na liderança e sobre o alto grau de exigência para as vagas, ela respondeu o seguinte:

“Não dá pra gente também nivelar por baixo. […] Não adianta a gente colocar alguém pra dentro que depois não vai ter condição de trabalhar com as equipes que a gente tem, de se desenvolver, de avançar na sua carreira, depois não vai ser bem avaliado. […] Aí realmente não tá resolvendo o problema, a gente tá criando outro.”

Deixo o vídeo [1] com o trecho da entrevista como fonte, principalmente porque destaquei na citação apenas os pontos mais polêmicos.

Ao ouvir esse trecho, percebi que ela fala com muita segurança a respeito desse cenário que ela acredita ser a realidade. Uma visão de que negros não possuem qualificação suficiente para disputar vagas com maior senioridade e até mesmo que são incapazes de evoluir na carreira quando ganham uma oportunidade. Pesquisando sobre o assunto, encontrei dados que refutam essa visão distorcida, que até mesmo antes da pesquisa já sabia que estava errada. Mas a pesquisa é necessária, já que gostaria de explicar esse erro com fatos.

Uma pesquisa do IBGE [2] mostra que a partir de 2018 pretos e pardos passaram a ser mais da metade dos estudantes de ensino superior da rede pública, com 50,3% de representação. Apesar da pesquisa mostrar diversas desigualdades e que ainda não estamos em um nível de igualdade, este dado é importante para entender que a diversidade já é uma realidade dentro das universidades.

Neste ano, o site Vagas.com [3] fez um levantamento com uma base de 200 mil pessoas, com mais da metade autodeclarada como parda ou preta. Os dados mostram que 47,8% dos profissionais negros possuem formação superior, mas 47,6% destes profissionais estão trabalhando em nível operacional e apenas 0,7% estão em cargos de diretoria. Aqui temos dados que mostram que pessoas negras possuem diploma de graduação, mas não têm a oportunidade de desempenhar o cargo compatível com a formação.

Um artigo do Insper [4] expõe a desigualdade em relação aos salários pagos para profissionais formados em universidades públicas e privadas. Em nenhum dos cenários, homens e mulheres pretos e pardos ganham mais do que homens brancos. Isso significa que quando as empresas contratam os negros que conquistaram seus diplomas, eles ganham menos do que os seus pares.

Segundo o IBGE [5], a diferença da taxa de desemprego entre brancos e pretos atingiu o maior nível desde 2012. Isso foi um reflexo das demissões nas atividades econômicas com a maior participação de negros, como comércio e construção civil.

Então a situação é a seguinte: mesmo formados, quando estão empregados, os negros recebem uma remuneração menor e ainda são os primeiros a sentirem os impactos da crise gerada pela pandemia. Pensando nesse panorama e na fala da co-fundadora do Nubank, você realmente acha que a pessoa negra contratada não tem capacidade de desempenhar as suas atividades e crescer profissionalmente? Ou acha que estamos inseridos em uma realidade onde mesmo estando capacitados e dispostos somos barrados antes mesmo de iniciar a disputa?

"É um privilégio aprender sobre racismo, em vez de experimentá-lo!!!"

"É um privilégio aprender sobre racismo, em vez de experimentá-lo!!!" Foto de James Eades, via Unsplash

Mesmo falando somente de dados do Brasil, encontrei um artigo [6] a respeito da discriminação durante entrevistas de emprego com mulheres que usam o cabelo natural . É uma pesquisa que foi feita nos Estados Unidos e que eu achei bem interessante, ainda mais por estar em transição capilar e também ser uma adepta das tranças. Mudanças que sempre me fizeram pensar antes de fazer, para “não ter problemas no trabalho”. O que, pensando bem, é um absurdo, mas não consigo evitar esse pensamento a cada mudança. Caso você ache isso um exagero, a leitura da pesquisa pode te ajudar a compreender melhor os diversos níveis de racismo que muitas vezes estão nos detalhes e algumas pessoas não percebem.

Incluí todas as fontes ao final do post e, como sempre, deixo o espaço dos comentários aberto para debates e contribuições.


Fontes:
  1. Cristina Junqueira sobre ações para a entrada de pessoas negras no mercado - Roda Viva ↩︎

  2. Desigualdades Sociais por Cor ou Raça no Brasil - IBGE ↩︎

  3. Pesquisas mostram abismo no mercado de trabalho para profissionais negros - Exame ↩︎

  4. Diferenciais Salariais por Raça e Gênero para Formados em Escolas Públicas ou Privadas - Insper ↩︎

  5. Por que o desemprego aumentou mais para negros do que brancos na pandemia - UOL ↩︎

  6. Research Suggests Bias Against Natural Hair Limits Job Opportunities for Black Women - Duke University ↩︎

O link do post foi copiado com sucesso!

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